Tratamento alternativo para Hiperplasia Prostática – Embolização

PROST 3A história da técnica de Embolização das Artérias da Próstata começou em 2007 na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos,com um estudo experimental em cachorros que tinha como objetivo avaliar a viabilidade, eficácia e segurança da Embolização das Artérias da Próstata de cachorros com próstatas aumentadas.

A Idéia era saber se as próstatas dos animais iriam reduzir de tamanho após serem obstruídas com a técnica da embolização. Os resultados do estudo foram muito satisfatórios, comprovando a diminuição do tamanho das glândulas.

Em junho de 2008, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, iniciou-se o tratamento de pacientes com obstrução urinária (em uso de sonda vesical) em decorrência da Hiperplasia Prostática Benigna (HPB). O estudo foi coordenado por médicos da Radiologia e Urologia, pontuando assim o pioneirismo mundial da nossa equipe.

Como é feito a embolização da próstata.

Trata-se de um procedimento minimamente invasivo que não necessita de internação e é feito com anestesia local. Semelhante ao cateterismo, um minúsculo tubo flexível de 2 milímetros de diâmetro (cateter) é introduzido na artéria femoral (virilha). Sob orientação de um aparelho de raios X, este tubo navega até a próstata e uma substância feita de resina acrílica, inofensiva ao organismo (semelhante a grãos de areia),  é injetada dentro da próstata com o objetivo de reduzir a sua circulação. Após isto, a próstata começa a diminuir de tamanho e alivia a obstrução da uretra permitindo a passagem da urina.

Os resultados do nosso estudo em diversos congressos internacionais e nacionais de urologia e de radiologia intervencionista. Recentemente, nosso grupo passou a ser reconhecido como referência mundial nesta técnica e começamos a treinar médicos de vários países que participarão conosco de um estudo multicêntrico internacional coordenado pelo Hospital das Clínicas da USP. O objetivo é reproduzir os nossos resultados em diferentes populações internacionais. Assim, a técnica vai ganhando a credibilidade necessária e consagrando-se como mais uma alternativa de tratamento aos pacientes com dificuldades urinárias decorrentes da HPB.

No estudo piloto, iniciado em junho de 2008, foram tratados onze pacientes portadores de retenção urinária aguda devido a HPB que usavam sonda vesical devido à falha do tratamento medicamentoso e que estavam em lista de espera para realizar a Ressecção Transuretral da Próstata (RTU-P ou raspagem da próstata por dentro do canal). Antes do tratamento os pacientes foram submetidos a exame físico pelo urologista, dosagem no sangue do antígeno específico da próstata (PSA), ultrassonografia e ressonância magnética da próstata. Pacientes com câncer de próstata e qualquer outra causa de disfunção miccional relacionados à obstrução urinária foram excluídos, assim como pacientes com insuficiência renal ou alergias graves ao meio de contraste iodado.

O sucesso do tratamento no estudo inicial foi de 91%, com redução de aproximadamente 30% do tamanho da próstata. Dos 11 pacientes tratados no estudo inicial, 10 voltaram a urinar espontaneamente nos dias seguintes ao procedimento (retirada da sonda em um período médio de 12 dias após a embolização). Até o momento, o acompanhamento destes pacientes variou de, no mínimo, 1 ano e máximo de 3 anos e meio. Todos os pacientes tratados estão sem sonda vesical e evoluindo bem após o tratamento por embolização. Atualmente, estão sendo tratados pacientes com as mesmas indicações para a RTU-P, tendo sido realizados 30 procedimentos. Deve-se ressaltar que a avaliação pelo urologista é indispensável para a realização deste novo procedimento.

A embolização cura a Hiperplasia Prostática Benigna?

Embora a técnica da Embolização das Artérias da Próstata não seja a cura da doença, ela pode proporcionar a melhora parcial ou total dos sintomas do trato urinário baixo (prostatismo) em decorrência do crescimento da próstata pela HPB, sendo uma alternativa muito eficaz de tratamento para estes pacientes, cujo mérito principal é ser minimamente invasiva, não necessitando de corte e internação e é feita com anestesia local.

É indicada para tratar próstatas de diversos tamanhos (grandes e pequenas) e, além disso, não compromete a função sexual e, caso necessário, a embolização não impossibilita a realização de outros tratamentos cirúrgicos tradicionais. A embolização das artérias da próstata pode melhorar os resultados das cirurgias tradicionais diminuindo a circulação da próstata, facilitando e reduzindo os riscos de sangramento de uma futura RTU-P, caso esta seja  necessária.

Quando a glândula mede até 90 gramas o tratamento cirúrgico atual e padrão-ouro para a doença segue sendo a RTU-P e a prostatectomia aberta normalmente está indicada quando a glândula é maior que isto. A aplicação de laser também pode ser feita com segurança e eficácia para desobstrução urinária.

Vale ressaltar que a HPB é uma doença de alta incidência, associada principalmente com idade avançada e a presença no organismo de testosterona (o principal hormônio sexual masculino) e estima-se que 90% dos homens irão desenvolver a doença. Apesar de ser uma doença benigna, a HPB pode comprometer a qualidade de vida. Isto ocorre porque cerca de metade dos homens que desenvolvem a doença apresentam sintomas urinários como jato urinário fraco, esforço miccional, sensação de esvaziamento incompleto da bexiga, aumento da frequência urinária, urgência para urinar e, em alguns casos, a incontinência urinaria.

Para o diagnóstico, cabe ao urologista observar um possível aumento do volume da próstata por meio do toque retal. Além disso, o exame de PSA deve sempre ser realizado para descartar a presença de câncer da próstata.

Nos pacientes sintomáticos, exames complementares como ultrassonografia e urofluxometria são necessários, pois ajudam a avaliar a repercussão da obstrução prostática sobre o trato urinário. Os pacientes candidatos a este tipo de tratamento também deverão ser submetidos a avaliação pela ressonância magnética, pois trata-se de estudo diagnóstico muito mais detalhado e que pode trazer informações adicionais ao tratamento pela embolização.

Texto baseado em trabalho de Dr. Francisco César Carnevale, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo