Priapismo

 

 Priapismo é uma ereção persistente e dolorosa, sem estímulo sexual e que se prolonga por mais de 6 horas.  Tem uma incidência baixa, ao redor de 1,5 por 100 mil homens.   Pode ocorrer em todas as idades, sendo mais comum em adultos.

Devido à forte dor, o priapismo é uma emergência que, de acordo com sua causa, se não diagnosticado e tratado adequadamente, pode levar à disfunção erétil.

 

As causas de priapismo podem ser a anemia falciforme, leucemia e doença de Fabry´s, o uso de drogas vasoativas injetadas no pênis para tratamento da disfunção erétil, intoxicações, traumas quer localmente ou cranianas. Também podem ter relação com  tumores cerebrais e quadros neurológicos,  como a epilepsia.  Também se relatam casos de priapismo pelo uso de drogas orais para tratamento da disfunção erétil.

 

O trauma local, com lesão em artérias e posterior formação de fístulas, é a causa mais comuns de priapismo arterial. A maioria dos casos é na realidade de origem idiopática.

 

O priapismo pode ser classificado em venoclusivo (isquêmico ou de baixo-fluxo) e arterial (não-isquêmico, de alto-fluxo) (Quadro 1).

 

PRIAPISMO DE BAIXO FLUXO

 

Priapismo de baixo fluxo é a forma mais freqüente e tem grande possibilidade de deixar seqüelas na função erétil. Após haver o enchimento máximo dos corpos cavernosos, a obstrução à saída do fluxo venoso impede a entrada do sangue arterial, apresentando então um estado de isquemia.

 

No priapismo de baixo fluxo, ocorrem isquemia e acidose no sangue cavernoso; o pO2 varia entre 20 e 40mmHg. Esse estado impede a drenagem dos corpos carvenosos,   não causando  grandes danos, a menos que se prolongue por  muito tempo.

 

O óxido nítrico e a prostaciclina têm efeito antiadesivo plaquetário, porém essas duas substâncias têm sua síntese bloqueada quando o pO2 cai para menos de 25mmHg. Por isso, existe a formação de trombos dentro das vênulas e nos espaços trabeculares  com isquemia de cerca de 24 horas. Após esse período, também há morte celular e conseqüente fibrose dos corpos cavernosos.

 

A principal causa desse tipo de priapismo é o uso de injeções intracavernosas de drogas vasoativas. Além disso, drogas psicotrópicas, anti-hipertensivos e cocaína podem causar esse tipo de priapismo. Outra causa é a anemia falciforme, sendo que a aglutinação de glóbulos falciformes nas vênulas do corpo cavernoso é considerada a causa de obstrução da drenagem venosa.

 

Algumas neoplasias, principalmente a leucemia e a nutrição parenteral, também podem levar a esse tipo de priapismo.

 

PRIAPISMO  DE ALTO FLUXO

 

Este tipo de priapismo ocorre devido à alteração do fluxo arterial para os espaços lacunares, causada por uma fístula arterio-lacunar ou pseudo-aneurisma.  O aumento do fluxo e da tensão de oxigênio, com pO2 entre 80 e 100mmHg, leva ao aumento da síntese de óxido nítrico, levando à vasodilatação de todo o corpo cavernoso. Neste caso, por causa da hiperoxigenação, as alterações estruturais são de pequena monta e o priapismo pode ser tratado de forma eletiva. Existe sempre a historia de traumatismo em sua gênese, com lesão da artéria cavernosa ou de seus ramos.

 

Quadro  I – Classificação e características do priapismo

 

 

VENOCLUSIVO

ARTERIAL

Fluxo sangüíneo

Baixo (isquêmico)

Alto (não-isquêmico)

Causa

venoclusão

Fístula arterial

Freqüência

Alta

Baixa

Etiologia

Drogas vasoativas

Outras drogas

Doenças hematológicas

Traumatismo perineal ou peniano

Tratamento

Urgente

Eletivo

 

 

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

 

O diagnóstico do priapismo é clínico, com o interesse maior em fazer a distinção entre priapismo de alto ou baixo fluxo, porque o tratamento de ambos é completamente diferente. Por isso, a obtenção de uma “gasometria” dos corpos cavernosos é fundamental.

 

O Tratamento do priapismo de baixo fluxo, pode ser feito com drenagem, por agulha grossa, do corpo cavernoso. Após a drenagem é feita a lavagem dos corpos cavernosos com soro fisiológico e a seguir uma nova drenagem é feita. Se o pênis ficar flácido, nada mais se faz; caso haja ereção, utiliza-se fenilefrina, 1 mg para cada ml de soro,  para novas drenagens repetidas varias vezes.  Se não houver sucesso com este tipo de tratamento, o paciente deverá ser encaminhado à cirurgia para realização de um shunt entre a glande e a porção distal dos corpos cavernosos, usando-se uma das várias técnicas descritas.

 

Caso mesmo assim não haja resolução do quadro, deverá ser feita uma fístula entre os corpos cavernosos e até mesmo realizada uma fístula entre o corpo cavernoso e a veia safena.

 

No priapismo de alto fluxo, há sempre um trauma relacionado e devido à ausência de isquemia e de comprometimento do músculo cavernoso, o tratamento não é urgente. Pode-se aguardar de 7 a 10 dias pela resolução espontânea do priapismo. Quando isso não ocorre, ou quando o paciente não aceita permanecer com o priapismo, o que é bastante comum, a embolização seletiva da artéria cavernosa ou de seus ramos comprometidos deve ser realizada.